terça-feira, 30 de setembro de 2008

Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street

por James Petras *

O secretário do Tesouro Paulson e o presidente Bush, apoiados pela liderança democrata, pediram ao Congresso US$700 mil milhões para salvar instituições financeiras da Wall Street.
Ao longo dos últimos anos estes bancos arrecadaram milhares de milhões de dólares tomando empréstimos e especulando com hipotecas, títulos e outros papeis financeiros, virtualmente sem qualquer capital a cobrir as suas apostas. Com a queda do mercado habitacional, as dívidas financeiras da Wall Street dispararam, o valor dos seus haveres evaporou-se e elas cravadas com milhões de milhões (trillions) de dólares de dívidas.
A liderança de Paulson, Bush e do Congresso quer que o contribuinte estado-unidense compre as dívidas privadas sem valor da Wall Street, comprometendo a actual e as futuras gerações de contribuintes com papeis desvalorizados.
Paulson/Bush e os líderes do Congresso afirmam falsamente que o fracasso em salvar os trapaceiros da Wall Street levará ao colapso do sistema financeiro. De facto, quase 200 dos nossos principais economistas das mais prestigiadas universidades rejeitam o salvamento de Paulson. A verdade neste assunto é que a retenção dos fundos para a Wall Street levará ao colapso deste sistema financeiro trapaceiro-especula dor, o qual criou a actual derrocada económica.
O governo federal poderia e deveria utilizar as centenas de milhares de milhões do dinheiro público para estabelecer um sistema bancário e de investimentos a nível nacional controlado publicamente e sujeito à supervisão de representantes eleitos. O colapso do actual sistema financeiro em bancarrota é tanto uma ameaça como uma oportunidade. O colapso deste sistema corrupto levou à perda de empregos e congelamento do crédito e da concessão de empréstimos. O estabelecimento de um novo sistema bancário de propriedade pública proporciona uma oportunidade para financiar as prioridade das vasta maioria do povo americano: a re-industrializaçã o da nossa economia, um programa de saúde para todos a nível nacional, garantia e estender a Segurança Social no próximo século, reconstruir nossa infraestrutura decadente e muitos outros programas essenciais para o modo de vida americano.
O problema não é a falsa alternativa de salvar a Wall Street ou o caos e colapso financeiro. A escolha real é entre subsidiar trapaceiros ou estabelecer um sistema responsável, reactivo e justo administrado publicamente.
Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street
1- Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os seus lucros e passar as suas perdas para os contribuintes. Eles têm de assumir a responsabilidade das suas decisões más.
2- Grande parte das dívidas tóxicas (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com activos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice.
3- O Tesouro dos EUA comprará papeis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer activos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs.
4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes serão fincados em papeis sem compradores.
5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras.
6- O dólar desvalorizará quando o poder de atracção da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores.
7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para retirar-nos desta recessão profunda.
8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo do director do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o facto de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais "activos tóxicos" e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes.
9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas e o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes.
10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão.
Alternativas ao salvamento da Wall Street
A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados. De facto, investir US$700 mil milhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de défices orçamentais e comerciais.
Fundos públicos investidos na manufactura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro.
O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.
*Professor emérito de sociologia na Binghamton University, New York.

Nenhum comentário: