sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Participação política da juventude nas eleições Municipais

por Dina Alves - Enedina do Amparo Alves*

Sudoeste e Nordeste brasileiro. Dois extremos com ricas diferenças e mesmas características de desigualdades sociais. Alguns jovens do município de Guarujá, litoral paulista e de Ipiaú, sudoeste baiano, com intenção de pôr em prática as suas concepções ideológicas, organizaram-se e lançaram candidatos a prefeitos e vice – prefeitos em chapas de oposição, nos seus respectivos municípios brasileiros.
O que os jovens desses dois municípios têm em comum?
A sensibilidade face às desigualdades sociais nos seus municípios, apesar de não se conhecerem, são camaradas. Ambos são candidatos a prefeitos e vice-prefeito. Guarujá e Ipiaú são apenas dois municípios em diferentes lugares geográficos, mas suas peculiaridades representam a maioria das cidades brasileiras, pois, possuem muitas riquezas culturais, diversidades étnicas, artísticas e religiosas. Contudo, diante de tantas riquezas, impera também, a miséria, fruto de falcatruas e corrupções cometidas pelos administradores locais, com suas políticas desastrosas, desumanas e criminosas. Tanto é que, quem se aproxima dessas duas realidades sociais confunde-se com tantas semelhanças de violação de direitos humanos nesses dois municípios.
Eis uma sucinta comparação;
As crianças raquíticas do bairro de "Conceiçãozinha" e "Areão" que sobrevivem nos sinais de trânsito em Guarujá-SP, reproduzem-se nas crianças exploradas nos trabalhos da agricultura e agropecuárias, para servir os neo-coronéis que ainda impera em Ipiaú-BA. As adolescentes exploradas sexualmente na Praça do Cinqüentenário em Ipiaú, reproduzem-se nas faces das meninas da avenida da Saudade, essas são exploradas pelos turistas e comerciantes locais, às vistas bem aberta do Ministério Público que tem como umas das funções zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis. Ás vistas dos Conselhos Tutelares encarregados pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, e diante do poder público em geral, omisso e criminoso, pois a negligência e discriminação face a realidade das meninas e meninos explorados nas duas cidades constituem numa verdadeira violência contra a pessoa.
Outros adolescentes ainda, são espancados dentro das redes de supermercados, em seus depósitos específicos, por suspeitas de pequenos crimes patrimoniais na Avenida Puglise em Guarujá, e na praça Rui Barbosa em Ipiaú. E o que dizer da maioria dos jovens desses dois municípios? Os quais o Estado, limitou todas as possibilidades de oportunidades e acesso aos direitos fundamentais e sociais? Aqueles jovens, na sua maioria, sobrevivem como vítimas da violência e não causadores dela. Em Guarujá muito deles são, sumariamente, executados pela polícia em verdadeiras chacinas, antes de completar 30 anos de idades. Em Ipiaú, muitos deles perdem a juventude em verdadeiros depósitos carcerários num sistema opressor e racista. Outros ainda, sonham com uma formação educacional superior, porém, a falta de recursos materiais e de perspectivas, muitas vezes, os levam para a constituição de famílias prematuras .
Quando se fala dos idosos de Guarujá, vale lembrar aqueles que estão nas palafitas, guetos e becos da favela do "Caranguejo". Comparados aos idosos de Ipiaú, estes descansam em berço "esplêndido" nas calçadas da igreja da matriz de São Roque, num verdadeiro contraste entre o ouro repleto nas paredes da matriz e o cansaço nos rostos dos idosos.
Esses jovens candidatos a prefeitos e vice-prefeitos, entendem que somos filhos de um processo de estagnação e estamos num cruel abandono social, político, econômico e cultural, pois, os que estiveram e estão no poder não apresentaram um projeto político que emancipe, de fato, o ser humano. Como falar em ordem e progresso se os grupos historicamente discriminados não participam do processo democrático de decisão e não fazem parte da pauta dos que estão ou estiveram no poder?
Nas suas respectivas propostas de governo, esses jovens entendem que a grande mudança da história se faz na participação, decisão e ocupação dos espaços públicos, representados por esses grupos; como o povo negro credor da imensa dívida da falsa abolição da escravatura, os campesinos que resistem ao agronegócio, os sem terra na luta secular para ver respeitada sua dignidade , os sem teto, os sem universidades, os atingidos por barragens, os sub-empregados e desempregados, as mulheres vitimizadas das várias formas de violência, os GLBTTs1 e demais grupos sociais vítimas desse sistema que oprime e explora nossa gente. Esses jovens candidatos concebem a idéia de transformação social, a qual é fruto do sonho da maioria da população, que ainda acredita num sistema social, político e econômico baseado na propriedade coletiva, e assim, numa sociedade justa, plural, solidária e igualitária, com respeito às diferenças. Dina Alves- Enedina do Amparo Alves é graduanda em Direito-UNAERP-Guarujá/SP, atriz e poeta.
*graduanda em Direito-UNAERP-Guarujá/SP, atriz e poeta.

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