sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A falácia do discurso liberal e a socialização do prejuízo (deles)

Maykon Santos*

Ao assistirmos televisão nos últimos dias, uma coisa salta aos olhos. Os articulistas dos grandes meios de comunicação defendendo que o Estado intervenha na economia e traia o maior credo da ideologia liberal: o livre mercado. O que está por trás disso?
Antes, relembremos primeiro o credo da ideologia liberal. Essa desde sua formação no século XVIII tem uma máxima. O estado é ineficiente para promover o desenvolvimento econômico e a equidade social. Assim, esse deve deixar que o mercado aja livremente para promover, sozinho e devido às regras naturais que o regem, o desenvolvimento, a igualdade social e a democracia. È o famoso laissez-faire, que pode ser resumido em um conjunto de livre mercado e de defesa da propriedade privada.
Se um estado, como fez a Bolívia e a Venezuela, estatiza uma empresa, aumenta seus gastos para promover desenvolvimento e justiça social ou emite leis que controlem o funcionamento do mercado, atitudes que contrariam o credo liberal, é fortemente atacada pela grande impressa. O Estado está interferindo no “equilíbrio natural” do mercado e essa política é fadada ao fracasso. São dados Vivas ao estado mínimo e morte à políticas que lembrem o socialismo.
Pois bem, quando o tal do mercado demonstra sinais que não é tão naturalmente equilibrado e que pela ânsia de lucros de bancos e empresas do ramo imobiliário se formou uma bolha de supervalorização e concessão de créditos que fogem à capacidade de pagamento o que poderia levar o sistema (de livre mercado) a sofrer sério danos. Eis que os defensores do livre mercado vêm a público defender que o Estado saia em socorro ao mercado. E este auxílio é algo que solta aos olhos. Alguns estimam que os Bancos Centrais de todo mundo injetarão mais de 1 trilhão de dólares no mercado. È uma cifra que supera o PIB da maioria dos países do mundo, inclusive o do Brasil. Qualquer milhão a mais nos gastos de um governo é taxado como supérfluo, política populista. Mas de um 1 trilhão para bancos que já lucraram outros tantos milhões em épocas de capitalismo financeiro não é nenhum problema. Nesta situação entra no vocabulário da grande impressa a palavra socialização, mas não dos meios de produção, do poder ou da comunicação e sim a socialização do prejuízo (deles) entre todos os cidadãos.
O que sustenta a ideologia liberal é a ótica de concentração de poder e de lucros nas mãos de poucos. Enquanto os mecanismos desta ideologia servem a classe dominante, produzindo concentração de poder e de lucros. Tudo bem. Quando o capitalismo entra em suas fases cíclicas de crises e estas ameaçam as bases do sustento da dominação. O estado tem que socorrer o mercado, pois se não fizer, o mesmo quebra e todos sofrem. Pelo menos é isso que juram de pés juntos analistas econômicos como Carlos Alberto Sardenberg e Mirian Leitão. Não é a toa que um famoso colunista chama esta grande mídia de Partido da Impressa Golpista, PIG. E este é mais um golpe para manter os lucros e o poder de poucos.
A ideologia liberal nada mais é do que a ideologia da classe dominante que defende seus interesses a todo custo, mesmo que para isso tenha que abandonar por um tempo seu credo.

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